terça-feira, 14 de outubro de 2025

Criança precisa de bicicleta correta

 


Você gosta de seu filho? Gosta mesmo? Então dê para ele o que ele precisa, não o que você desejaria. Criança tem limites inerentes a sua idade e desenvolvimento, respeite isto. 
Se a maioria dos adultos não sabe usar corretamente as marchas, por que dar para uma criança pequena uma bicicleta cheia de marchas? Se o melhor para qualquer ciclista é ter uma bicicleta leve, por que fazer uma criança pedalar uma bicicleta que com marchas terá uns 2 kg a mais de peso inútil e marchas que não servirão para nada?

Infelizmente não tive condição de trazer para meu neto uma BMX que encontrei numa bicicletaria fora do Brasil, não me lembro onde. A bicicletinha tinha uma qualidade impressionante e pesava algo em torno de 5 kg. Estava a trabalho e não tive como trazê-la comigo. Teria sido a bicicleta perfeita para ele.

Acho um absurdo uma criança de 7, 8 anos ter que pedalar uma bicicleta aro 20 de 15 kg porque tem suspensão, 21 marchas e sei lá mais o que. Pior, acho um desrespeito o pai que compra uma bicicleta grande, aro 26 ou, pior ainda, aro 29, para o pré adolescente porque ele vai crescer. 

Enfim, quer estimular alguém? Comece respeitando quem ele é. Vale mais ainda para crianças.    

segunda-feira, 13 de outubro de 2025

Furo irreparável



Mais de 200 km pedalando, Romaria encerrada, e num passeio leve e curto para soltar as pernas vem um furo. Pneu baixa rápido, furo grande. Peguei um senhor caco de vidro. Até para tirá-lo pneu não foi fácil. Sempre pedalo com câmera reserva, de volta para o hotel. Ainda estava em São José dos Campos, que é uma cidade muito agradável, inclusive para pedalar. Trocar a câmara no meio do bairro Urba Nova é  até gostoso. Cheio de ciclistas de todo nível pedalando tranquilamente em vias bem sinalizadas, circuito legal, um bom verde...

No hotel fui remendar a câmara e para minha triste constatação os furos, dois cortes de um lado, mais dois pequenos, quase invisíveis do outro, não valem a pena remendar. Triste porque esta câmera é ótima e os remendos convencionais não vão conseguir segurar tantos cortes. É  remendar, montar de volta, encher e o remendo abrir em algum ponto. Estou cansado de passar por esta.

Há um limite de resistência de adesão para cada um dos remendos. Aqueles que são uma manta retangular que se corta no tamanho necessário são ótimos para pequenos furos, mas não conseguem segurar alta pressão com cortes como os que se vê nas fotos da minha câmara. Os redondos, também conhecidos como estrelinha, são mais resistentes, mas por conta da distância entre os furos e cortes, não vão aguentar a pressão necessária. 
Numa situação de emergência vai o que tiver, mas só vai conseguir voltar para casa se for com baixa pressão, e aí se tem que tomar muito cuidado para não morder o aro num buraco ou defeito de pista.

Eu tive uma ideia, levar até uma borracharia para fazer um remendo a quente, a velha e boa vulcanização. Os tempos são outros e as borracharias não pegam mais câmara de bicicleta. "Mudou a técnica, mudou a borracha, tem mais trabalho e gente ganha menos. Não dá para fazer remendo em pneu de bicicleta" disse o dono de uma borracharia. Ponto final.

Óbvio que o cabeça dura remendou, mas com a quase certeza que perdi os remendos. 

quarta-feira, 8 de outubro de 2025

Ciclista cuida de ciclista, regra fundamental

É ótimo ter companhia enquanto pedala, a partir do ponto que quem está a seu lado ou próximo saiba pedalar em dupla ou no meio de um grupo.

O sujeito que pedalou comigo boa parte de minha vinda para São José dos Campos pedalava corretamente, mas cometia erros que me colocaram em perigo mais de uma vez. Eu quase atropelei um romeiro que andava a pé por causa dele. Não gosto de jogar a responsabilidade em cima dos outros, mas aí foi o caso.

Estavamos numa descida, o diferencial de nossa velocidade para os romeiros pedestres era grande. Ele ficou pedando ao meu lado falando sem parar e na aproximação não respondeu ao meu pedido que acelerasse para eu me encaixar atrás dele e assim passar os pedestres em segurança. Não fez, continuou falando sem prestar atenção.  Em outras palavras, ele acabou me empurrando para cima do pedestre. Eu deveria ter previsto.

Ciclista cuida de ciclista, regra básica. Aliás é o básico só básico em todas situações, não só no ciclismo, mas na vida. Deixe tudo para o próximo melhor que encontrou, filosofia de vida japonesa, absolutamente correta.

O ciclista queria conversar, até aí sem problema. Faz parte. Agora, converse prestando atenção não só no que está fazendo, mas principalmente no que suas ações podem causar aos outros.



sábado, 4 de outubro de 2025

Pedalar distâncias com sabedoria

Tive um almoço a 20 km de casa, ciclovia do rio Pinheiros de ponta a ponta, lugar delicioso, YCSA, comida ótima, companhia de dois amigos de longa data. Pedalar 20 km não é problema... se forem bem pedalados. "Ciclismo é a arte de preservar energia". Dia ótimo.

Estou gaga e já não me lembro mais se já soltei que semana que vem devo ir pedalando para Aparecida, 180 km divididos em três etapas, 100 km, um dia de descanso, mais os 80 km finais. Gostaria de um dia, lá atrás, num passado distante, ter feito os 180 km numa tacada, mas a esta altura do meu campeonato está completamente fora de questão. As dicas que dou aqui são para seres humanos normais e foram aprendidas com ciclistas de alta performance. 

Primeira dica: para distâncias médias ou longas nunca saia fritando. Aliás, nunca e em nenhuma situação saia fritando. Deixa o corpo pegar aos poucos o exercício, adaptar-se à situação. Mais, dá um tempo para a cabeça entrar na brincadeira. Vale não só para ciclismo, mas para todos exercícios e esportes. Aliás, não fritar de cara é a sabedoria que o ermitão, aquele que descobriu o sentido da vida, levou para seu feliz isolamento no topo da montanha. Exatamente a mesma verdade que nós, de vida apressada que não leva a nada, procuramos em nossas vidas mundanas. O ermitão responderá: "Pedale, pedale, que teu espírito se acalmará".

Voltemos ao mundo dos simples e neuróticos mortais.

No ciclismo profissional tem uma regra explícita para subidas que vale ouro também para longas distâncias: começa devagar para terminar rápido. Para entender, vale a comparação com o sujeito que pedala desesperadamente antes da subida "para pegar embalo" e metros depois enrola a lingua nos pedais. Preciso explicar melhor?

O ideal é que quando você saia para uma pedalada longa os muitos primeiros km sejam na mais completa manha. Cada um tem um tempo de aquecimento, respeite o seu. Minha musculatura demora muito para entrar no espírito de uma pedalada longa, 100 km. Acreditem, se minha cabeça está bem, se estou me controlando, só depois de uns 10 ou 15 km é que solto. Fiz meus melhores tempo total de pedal em todas as longas distâncias que saí muito cuidadoso, diferenças grandes.

Ir e voltar do almoço, 40 km total, foi uma baba. Pensando bem, porque sai com muito tempo para chegar, não querendo suar muito, e ainda por cima peguei vento de popa indo e voltando. Virou o vento, pura sorte. 
A volta foi com uma ventania empurrando forte, 24, 26 km/h de vento nas costa, o que deu uma diferença de 4 km/h de média. Mas confesso que aí me entusiasmei e fritei as pernas. 

Como sei a velocidade do vento? Com vento pelas costas é fácil. No momento que para o barulho do vento é quando o vento e o ciclista estão na mesma velocidade. Aí basta olhar no velocímetro para saber. 

Segunda dica: não se deixe levar por situações fáceis. Tente se controlar, o que vou dizer que não é muito fácil. Entusiasmo é bom até a hora que passa dos limites, o que pedalando é fácil acontecer. Quando vejo entro na bagunça e pedalo feito uma vaca louca. Vaca louca? Que seja. 
Que delícia, vento empurrando. Aproveita para preservar mais energia. O maluco aqui socou mais ainda os pedais. Resultado: voltei moído. Desnecessário.

Sem prática é difícil se fazer algumas perguntas. Se for seu caso, comece bem devagar, curtindo a paisagem, o ar, as pessoas. Não pense na distância. Aliás, esta é uma dica indispensável: Não pense em quanto falta, não pense em nada, curta o momento que está vivendo. Quanta energia eu tenho e como posso melhor usá-la? É uma ótima pergunta que bem usada vai servir para diminuir os gastos. 

Com tempo, com autonhecimento, você vai conseguir controlar o "Onde e como posso ou devo colocar minhas energias?", sempre controlando o impeto do "Eu quero chegar logo". Isto mata. 

quinta-feira, 2 de outubro de 2025

Por que se morre no trânsito do Brasil?

Depois de rever algumas vezes este vídeo confesso que falar sobre o assunto, "Por que se morre no trânsito do Brasil?", será repetir mais uma vez o que venho há muito repetindo. Porém, tem uma pequena fala do Aveleda que me leva a relembrar algo que já escrevi, mas agora usando um velho ditado popular que põe a coisa de uma forma mais sarcástica:

"Morreu? Antes ele do que eu". 
Traduzindo: Foda-se que o outro tenha morrido. O outro é o outro. Comigo e com os meus não vai acontecer porque nós somos mais espertos e melhores. (Vai nessa, mané!)

A verdade dura e crua é que o problema de acidentes no trânsito no Brasil, no mundo e no universo, tem nome e sobrenome: custo financeiro. Em outras palavras, simplificando, custo hospitalar e de tratamento. Foi por esta primeira razão que países do 'primeiro mundo' começaram a organizar o trânsito, melhor, as cidades, seus bairros, suas vias e espaços públicos. Foi para diminuir custos hospitalares que na década de 60 passaram a obrigar nos países nórdicos o uso de cinto de segurança, depois a diminuição da velocidade e outras medidas para redução de acidentes, leia-se custos.
 
Mortes? Depende de quem morre. Sim, repito, depende de quem morre. São pouquíssimos os que tem valor agregado suficiente para pesar no cálculo ou fazer diferença. A maioria é número que só conta pelos votos ganhos ou perdidos, ponto final.
No mesmo contexto, uma cidade menos violenta, com melhor qualidade de vida, muito mais fácil de ser administrada, isto em vários sentidos, portanto com menos custos, é mais rentável.

Dirão: minha visão é de capitalismo e de um liberalismo selvagem. Responderei: É mesmo? 
"Morreu? Antes ele do que eu", não tem partido, ideologia ou religião, principalmente onde o salve-se quem puder, até corporativo, impera.  
Se um lado tem preocupação com a população, como explicar dar incentivos para a população comprar veículos particulares, carros e motos, sem um mínimo de preparo para sua condução? Como explicar a falta de pressão (para valer, não o diz que diz) para diminuir (mesmo) o número de ocorrências com pedestres e motociclistas sabendo que a imensa maioria dos acidentados e mortos estão na população de baixa renda? 

Relembrando o que escrevi: o melhor símbolo da "preocupação" com esta situação é a Ponte Estaiada, construída unicamente para carros e motos, sendo que numa de suas cabeceiras existem duas favelas cujos moradores não podem usá-la para cruzar o rio Pinheiros.

Sérgio Aveleda fala de forma educada a realidade: todos estão se lixando se o outro sofre um acidente. Se não mudar isto, vai ser difícil.

Dá para mudar? Dá, como diz no vídeo Flávio Cunto, Professor do Departamento de Engenharia de Trânsito da UFC: "Com medidas simples", pequenas intervenções de engenharia viária, ou calming traffic, acalmamento de trânsito. Eu acho que já ouvi falar sobre isto.
Dá para mudar, com fiscalização, multa, educação, punição, punição rápida e eficaz... Acho que também já ouvi falar...

Dá para mudar! E mudará, melhorando muito a segurança de todos, se parar de apontar o dedo para o outro. 

O único participante do trânsito que pode apontar o dedo para todos os outros é o pedestre. E como diz Reginaldo Paiva: "pedestres somos todos, sem exceção".

O dia que a vontade do pedestre for respeitada, a coisa vai tomar jeito. A meu ver, este é o primeiro e prioritário passo. 

Não há interesse por parte da população brasileira, sem exceção, ricos, pobres, direita, esquerda, tementes a Deus ou não, em reverter o que vivemos hoje. Talvez avisando o pessoal que acidente de trânsito doi no bolso de todos a coisa tome jeito. Do contrário, por causa de mortes... eu duvido que a barbárie pare, e tenho boas razões para duvidar.    



terça-feira, 23 de setembro de 2025

Ciclovias que não escoam a água e ciclofaixas que viram rios

Será que chove em São Paulo? O sistema cicloviário que foi implantado levou em consideração chuvas? A pergunta parece ironica, mas pelo que se vê pedalando na chuva ou depois dela não é, não é mesmo. 

Ontem sai quando deu uma estiada. Não precisei de capa, mas tive que ir muito devagar porque a drenagem das ciclovias é péssima. Na chuva ou depois dela só de barco a remo. Ridículo! Na Europa o pessoal sai de bicicleta em qualquer condição. As ciclovias, ciclofaixas ou qualquer lugar por onde passe a bicicleta são preparados para escoar ou absorver a água com rapidez. A curvatura do piso faz escoar a água e o tipo de asfalto usado, sim asfalto, em certos casos absorve a água quase tão rapidamente quanto arreia. Temos este tipo de asfalto aqui, já é usado em ruas e avenidas de São Paulo, e em várias estradas. Dá para fazer com absorva mais rápido ainda, "basta ajustar a usina de asfalto" disse um renomado especialista em pisos rodoviários da USP.

Boa parte das ciclovias paulistanas enchem de poças de água que não escoam nem bom tempo depois da chuva. A formação de poças de água é fácil de evitar, aliás, obrigatoriamente deve ser evitada com uma curvatura ou inclinação correta do piso. Os responsáveis pelas ciclovias que temos não estudaram, nem conhecem, esta ciência. No caso de ciclofaixas, muitas simplesmente viram rios com as chuvas. Enfim, ridículo.

E em muitas delas usaram uma tinta que é impermeável. Pelo menos pararam de usar a tinta que mandava para o chão até ciclistas profissionais. 

Fico profundamente irritado em dias de chuva porque para circular nas ciclovias não tenho bote e não sou bom remandor.

Num momento de estiágem tive que pedalar na ciclovia da Pedroso de Moraes. Tem trecho que é uma poça atrás da outra, ridículo, irritante. A chuva tinha parada já fazia um bom tempo, portanto o piso deveria estar seco. Já reclamei para as "otoridade", mas nicas de resposta e muito menos ação. 

Pedalei com chuva em várias cidades da Europa, e sei que não precisa ser assim por aqui. Pedalar na chuva pode ser chato pelo lado do molhado, mas passar por todo trânsito completamente atravancado compensa. Num destes dias de chuva forte um conhecido estava de carro e demorou 2h30m para chegar em casa num trajeto que eu fiz em um pouco mais de 30 minutos no mesmo dia e hora. Simples assim. Quem usa carro sabe bem.

Pedalar na chuva e vento

Hoje não dá. Não dá o que? Sair para pedalar. Uai, por que? Chuva e vento em rajadas fortes. OK, até dá, mas a possilidade de chegar empapado é grande. Por que? 

Não tenho problema algum em sair de bicicleta com chuva, mas tem um limite de quanto está chovendo ou a capa, por melhor que seja, não vai segurar. Outro problema é vento. Com vento normal ainda dá para ir, mas se o vento for forte, em rajadas e lateral a capa voa, abre, entra água por tudo quanto é canto. Aí só vou se for inevitável. Falo como ciclista urbano e não como esportista. Os equipamentos de chuva são bem diferentes. O esportivo é fechado, calça e jaqueta, o de ciclista urbano deve ser aberto para evitar suor.  
 
Com lufadas de vento fortes, intermitentes e picos de tempestade, como está acontecendo neste instante, daí não dá. Não há equipamento que segure. Tá bem, pode até ter, e deve ter, tem o que segure, mas para outro uso que não o pedalar. Pedalar com um equipamento que sele você seco vai ocorrer um outro problema: o suor vai ficar dentro da capa, macacão, ou qualquer roupa a completa prova de chuva ou molhado. Ouça o que digo, é pior que ficar molhado de chuva. Nestes casos, em vez de você ficar molhado em alguns lugares do corpo, você ficará encharcado em todo corpo. E depois que você chegar ao destino vai demorar muito mais para ficar seco. Falo de experiência própria. Antes de conhecer a capa correta para ciclistas, o poncho, exprimentei de tudo, inclusive equipamento para marinheiros, e não dá, é muito ruim por várias razões. 
Equipamento de chuva para ciclista tem que evitar que a água da chuva chegue ao corpo e permitir que a transpiração do corpo saia.

Tem uma nissei que pedala, faça sol ou chuva, com um guarda-sol preso à bicicleta. Numa chuva bem fraquinha pelo menos pode deixar a cabeça seca. Capa plástica transparente vendida nas esquinas e campos de futebol também não serve porque seu corte é para pessoas que estão em pé ou a pé, caminhando, e eventualmente sentadas. O ciclista senta na bicicleta, mas movimenta as pernas. Mais, a abertura destas capas é frontal por botões, o que com a velocidade da bicicleta não funciona direito. Finalmente, o material é muito frágil, vai para o lixo rapidinho. 

Qual a capa ideal para ciclistas? A que tem o mesmo desenho dos ponchos de quem monta a cavalo. Cobre todo o corpo, inclusive braços e mãos, deixa as pernas livres para pedalar, e ventila por baixo, o que evita que o suor fique retido junto ao corpo. Há diversos graus de impermeabilização, para país tropical como o nosso recomendo o mais alto. Também há tamanhos e cortes diferentes, alguns inclusive para proteger a mochila. Encomendei uma para Ana, que é pequena, e veio uma que é grande para mim, que tenho 1,83 m. Eu tenho algumas, uma para cada mochila, e sei que há uma diferença no peso. Vestido não faz diferença, mas para quem leva sempre na mochila faz.

Descubra se a capa - poncho vem com refletores, o que em dia de chuva faz uma enorme diferença na segurança do ciclista. Lembre-se que com chuva a visão dos motoristas diminui.