quinta-feira, 14 de novembro de 2024

nhe nhec enlouquecedor

Como justificar que uma bicicleta que faz um nhec nhec irritante depois de pegar uma chuva fina quando estacionada pare de fazer? Lubrificação, é claro. A água da chuva serve como lubrificante, até aí vou. A questão é que o barulho sumiu porque foi lubrificado de cima para baixo. Eu olho para ela e me pergunto, pô! o que fazia barulho, de onde vinha? Não faço ideia. 

Quando a minha laranja, a bicicleta, secar e o barulho voltar, o que provavelmente acontecerá, vou ter que lubrificar com WD40 uma parte por vez, peça a peça, o que já fiz e não consegui localizar o maldito nhec nhec. 

Uma das hipóteses era rachadura, mas em quadro de alumínio elas ficam fáceis de localizar, foi o que disse um dos mais respeitados mecânicos deste país. Ele examinou e não achou nada. Meus olhos já não são tão acurados.

O culpado, como mordomo em filme de crime, deveria ser o selim, mas não é. Faz nhec nhec quando estou pedalando sentado numa subida. Saio do selim e pedalo em pé para, portanto é o selim, diz a lógica. Só que não é.

Grampo de selim mal apertado? Não. Falta lubrificação? Foi lubrificado. Não é.

Movimento central? Apertado, checado. Não é.
Pedivela? Apertado, chegado. Não é.
Pedais? Apertados, chegados. Não é.

Blocagem com pouca pressão? Poderia ser. Uma vez me aconteceu, barulho que não descobri de onde vinha, quadro de alumínio. Quase fiquei louco com o barulho, chequei tudo, não consegui achar a fonte do barulho. Dei braço a torcer, fui até a bicicletaria do santo Luiz  que ouviu minha história e matou a charada: blocagem traseira com pouca pressão. 
Neste caso, a da laranja, não é a blocagem.

O que falta é o canote de selim. Já me aconteceu de a cabeça, ou trilho, ou carrinho, do canote de selim ter uma micro rachadura, mas não deve ser o caso porque a chuva fina não molhou aí, portanto não lubrificou.

Sobre canote de selim, tive a péssima experiência de um estourar na cabeça quando pedalava na descida de São Paulo para Santos. O selim voou exatamente quando entrei na cabeceira da ponte sobre a Represa Billings, na Anchieta. Tive que terminar a viagem em pé nos pedais. Sou muito atento com barulhinhos, e não tinha ouvido nada ou percebido a rachadura até o forte barulho da ruptura e o selim voando.

Bicicleta não deve, ou melhor, não pode fazer qualquer barulho enquanto roda. Fez, é sinal que alguma coisa está errada. Vira e mexe cruzo com alguém pedalando bicicleta com crec crec ou nhec nhec. Alguns não conseguem ouvir, outros não se importam. De qualquer forma, se puder avise. 

O número de peças de uma bicicleta é muito pequeno. Mantê-la ajustada e funcionando segura é muito fácil. Não custa prestar atenção e seguir rodando sem qualquer barulho ou ruído.
A maioria dos barulhos é fácil de ser corrigida. Se o barulho vier da frente da bicicleta faça a manutenção imediatamente. O acidente mais pavoroso que um ciclista pode sofrer é por quebra de qualquer peça ou componente dianteira de uma bicicleta. Não experimente.

sexta-feira, 18 de outubro de 2024

Sentir-se seguro e estar seguro: não misturar coisas. pedalo

Sentir-se seguro e estar seguro: é bom não misturar as coisas.

Ciclismo é essencialmente técnica. Quanto mais você se atem a técnica - correta - mais seguro você está.
A bem da verdade, "Não é a bicicleta que é insegura, mas qualquer veículo mal conduzido é inseguro"; usando as palavras de meu caro amigo Luiz Dranger. Ele costumava tirar um sarro completando "faz besteira num tanque de guerra para ver a merda que dá".

Capacete, luzinhas piscando, ciclovias, e tudo mais que possa ajudar na segurança do ciclista. Ajuda? Óbvio que o sujeito sente-se mais seguro, mas será? As pesquisas são absolutamente claras: uso de capacete aumenta em 17% a possibilidade de acidente. Não faz sentido? Faz. Simples, capacete faz o ciclista sentir se mais seguro, e sentindo-se mais seguro faz dele mais propenso a acidentes.

Não é o sentir-se mais seguro, mas o ser mais seguro que vale. Há uma diferença enorme entre as duas situações. Mais um pouco chego aos 50 anos pedalando praticamente direto, diariamente e com boa quilometragem. Estou farto de conhecer ciclista que bate o pé que faz tudo certo, mas vira e mexe sofre acidente. Óbvio que os outros sempre são os culpados. 

Pensando neste texto lembrei de quando tornaram obrigatório o uso de cinto de segurança e muita gente dizia que não usava porque se caísse num lago com o cinto preso morreria afogado. Quando perguntado sobre quantos carros haviam caído num lago ou córrego, a resposta era imediata: "sem cinto me sinto mais seguro". 

Num pais onde a individualidade é essencial, quanto mais se chama a atenção melhor e se poderá fazer praticamente tudo sem punição, fazer o que se deve fazer é mais que chato, é um risco social. 
Brasil tem índices altos de acidentes de trânsito porque o "eu sei o que estou fazendo" vale mais que tudo. 
Segurança definitivamente não tem nada a ver com eu, mas tudo a ver com nós, com o jogo coletivo, com regras que foram aprendidas por muitos. Deu certo para um ou dois é eventual, deu certo, foi bom para muitos tem tudo para ser o caminho certo.

Seja seguro.

domingo, 29 de setembro de 2024

Lições de um ex profissional para simples mortais

7 years of brutal lessons as a pro cyclist in 7 minutes
GCN

Acabei de ver o vídeo novamente. Entre as dicas tem uma que aparece lá pelo fim que é "respeite os limites do seu corpo", que vem mais ou menos junto com um "você sempre consegue dar um pouco mais de si", ou, você consegue superar seus limites. A primeira é regra de ouro, a segunda só recomendo para quem tenha aprendido e dedorado a primeira. Tenho uma série de lesões por não ter respeitado meus limites, principalmente no futebol. Não me respeitei quando no ir um pouco mais além. Em algumas oportunidades acabei ultrapassando o meu limite cardíaco, o que é a coisa mais estúpida que alguém pode fazer consigo próprio. Fiz isto na bicicleta e, pior, muito pior, na piscina.

Respeitar os limites do corpo, todos limites, sem exceção, não é muito fácil nestes tempos de Marvel e seus super-heróis. A forma de pensar coletiva tem um papel maior que se possa imaginar. 

No futebol tive inúmeras lesões por pura estupidez. A única desculpa que ainda posso ter é que na minha época, faz um bom tempo, a quantidade e a qualidade de informação eram muito menores, mais difícil de acessar e não raro imprópria para amadores. Só como referência, Emerson Fittipaldi, bi campeão mundial na Fórmula1, foi dos primeiros da gategoria a se exercitar: fazia 1.000 flexões ao solo por dia. Hoje uma loucura destas é impensável, o entendimento do corpo e as técnicas de preparo mudaram completamente. Não faz direito quem não quer ou tem minhoca na cabeça, como diríamos naqueles velhos tempos.

Cansou, diminuiu ou parou. Seja inteligente. Eu não fui, sei bem o que é.

Larguei mal, comecei errado a prova, quando dei conta do erro sai feito um desesperado tentando recuperar terreno, com o coração acima de minha capacidade. No topo do morro pedalei uns 50 metros apagado com o subconsciente gritando "Isto aqui é uma prova! acorda! acorda! Não para, não para!". Felizmente quando voltei a si tive a inteligência, a auto dignidade, de mudar de canal e pensar "Ô idiota! Você não é profissional, isto é uma prova amadora. Para!", e parei.
Ir além dos limites para corrigir erros? Para que?

"Quem não sabe perder jamais saberá ganhar" talvez tenha sido a frase que mais me ensinou para a maturidade.

Profissional é profissional, amador é amador. A educação física no Brasil falha no ensinar está básica é fundamental diferença.

A segunda vez que mantive meu coração acima do limite foi mais absurda. Fiz 400 metros numa piscina disputando com um amigo e para não ficar para trás minha (in)consciência gritava "não desmaia, não desmaia, não desmaia..." Só parei quando ele não aguentou mais. O detalhe: ele era triatleta em tempo de competição, e eu um maluco querendo me provar sei lá o que. Não faço idei de porque não morri afogado.

Uma vez fiz Teresa D'Aprile passar o próprio limite. A hora que me dei conta ela entrou em estado de choque, tremendo numa frequência assustadora. Nunca mais.
Tive que acompanhar amigos que perderam a noção no trabalho e passaram do limite, o que é bem comum. Estes são mais difíceis de controlar. Alguns se deram muito mal, o que é mais comum do que se sabe.

A verdade é que mais que cabeça dura, precisa ser muito estúpido para não olhar-se e ver que "calma, melhor não passar daqui". 

Esporte amador tem que ser prazer, diversão, e acima de tudo bem estar. Passa dos limites quem está com algum problema de cabeça. A cabeça é tudo. Se é o caso, vai cuidar da cabeça. 

Do Budismo:

  • Compreensão Correta (Samyag-drsti)
  • Pensamento Correto (Samyak-samkalpa)
  • Fala Correta (Samyag-vac)
  • Ação Correta (Samyak-karmanta)
  • Meio de Vida Correto (Samyag-ajiva)
  • Esforço Correto (Samyak-vyayama)
  • Atenção Correta (Samyak-smrti)
  • Concentração Correta (Samyak-samadhi)

domingo, 15 de setembro de 2024

O caminho do ciclista

O caminho que o ciclista faz nem sempre é o caminho traçado pelas autoridades de trânsito. O ciclista, como qualquer ser humano ou animal, sempre busca o caminho maia curto ou mais sensato. Dentro da lógica que temos no Brasil. a prioridade é a fluidez dos motorizados, ponto final. Quem mais sofre com isto são os pedestres, ciclistas ainda se viram burlando todas as lógicas e não raro barbarizando, por asim dizer.

O ponto de ônibus está exatamente na frente do pedestre, do outro lado da avenida. Se for fazer o caminho estabelecido pelas autoridades para pegar o ônibus o pedestre terá que caminhar 70 metros para a direita, esperar o demorado semáforo abrir, cruzar a avenida na faixa de pedestre, parar, esperar o segundo semáforo abrir, caminhar mais 70 metros para chegar no ponto de ônibus que estava exatamente na sua frente do outro lado da avenida. O que a maioria faz? Cruza direto a avenida, é claro.

Esta foi a realidade numa das saídas do Parque Ibirapuera durante décadas.

Situações como esta são quase regra. A diferença é que ciclista, dependendo do local e situação, tem velocidade suficiente para se libertar, por assim dizer, das regras e imposições sem sentido.

O que você faria se pedalndo soubesse que seguindo reto, e não pelo caminho estabelecido pelas autoridades, você economizaria muito tempo e chegaria em casa muito mais rápido?



Respeitar os caminhos naturais de pedestres, ciclistas ou de qualquer mobilidade ativa, esta deveria ser a opção das autoridades, mas por aqui definitivamente não é. Ao contrário do que vem acontecendo mundo afora, onde o único olhar é para a qualidade geral de vida, portanto da cidade, aqui a prioridade continua sendo a fluidez dos motorizados. O sucessivo aumento das mortes no trânsito é consequência natural deste pensar. Num olhar frio, o lado ruim da questão não passa especificamente pelo número de mortes diretas pelo trânsito, mas no forte impacto negativo que o dar prioridade à fluidez traz para a economia, o que está fartamente provado lá fora. Da forma como se trata o trânsito aqui, indiretamente os problemas sociais acabam custando muito muito mais para a sociedade. Morte é uma parte pequena de um problema muito maior.

A outra opção para ciclista cruzar o rio Pinheiros, a ponte Euzébio Matoso, não é um caminho lógico para quem vem do Baixo Pinheiros / Terminal Pinheiros, além de criar mais um problema para a segurança dos pedestres que lá são muitos.
Mesmo com grande número de ciclistas cruzando ali o rio Pinheiros, nada foi feito para melhorar a condição de segurança.
A nova ponte passarela vem em boa hora, mas não vai solucionar o problema dos ciclistas que descem a Rebouças e seguem pela av. Euzébio Matoso. Duvido que estes vão desviar seus caminhos para pegar a nova ponte passarela, duvido mesmo. Ou seja, o problema da segurança no trânsito na ponte Euzébio Matoso continuará.

sábado, 14 de setembro de 2024

Construção da ponte passarela / ciclistas e pedestres paralela a ponte Bernard Goldefarb


Amanhã logo depois de acordar vou sair correndo para ver como ficou mais este trecho da construção da ponte passarela, paralela a ponte Bernard Goldfarb, que ligará a rua Eugênio de Medeiros ao outro lado do rio Pinheiros, em frente ao ex edifício Odebrecht, Butantã, e dará acesso à ciclovia Capivara.
Para entender a emoção que sinto só sabendo um pouco do que passamos, o pequeno grupo que num passado distante tentamos conseguir que olhassem para a bicicleta com mais seriedade e respeito.

Creio que o primeiro projeto com ponte para ciclistas sobre o rio Pinheiros foi o da ciclovia ligando o Parque Ibirapuera à USP. Descia pela Juscelino Kubistchek, cruzava numa ponte exclusiva para ciclistas Pinheiros na altura da ponte Cidade Jardim, seguia o rio na margem do Jockey Club até a ponte Cidade Universitária, cruzava por baixo dela e por uma ponte passarela entrava na USP. O divertido é sonhador Sérgio Luís Bianco estava no projeto e foi quem me mostrou. Pelo que lembro, Sérgio sempre dizia que Erundina dava a maior força, mesmo assim não rolou.

Mais um menos da mesma época foi o projeto de uma passarela paralela a ponte Cidade Universitária ligando a estação da CPTM com a USP. Terminaria dentro da USP, sem cruzamento. Pelo que soube foi vetada pelo conselho da USP, mas nunca soube se foi o que aconteceu (mas tenho minhas razões para acreditar que seria bem possível). Quem contou foi Reginaldo Paiva, então na CPTM.

Em 2007, no projeto Ciclo Rede Butantã bancada pelo ITDP, foi proposta uma ponte passarela cruzando o rio Pinheiros na altura da Estação Terminal Pinheiros, metrô, CPTM. O projeto não foi adiante por diversas razões inclusive porque alguns moradores do City Butantã bateram pé: ciclista por aqui não passa.

Sei que neste meio tempo que estive longe dos bastidores foram feitos outras tentativas de ligações, pontes e passarelas, sobre o Pinheiros.

Esta que está em construção paralela a ponte Bernard Goldfarb seu primeiro projeto aprovado em 2010, foi modificado e em 2015 recebeu o ok. De lá para cá foi burocracia. Ou seja, para se corrigir um problema de segurança viária que só fazia aumentar, demoraram só 14 anos para começar a obra. Brilhante! Mas muito, mas muito bem vinda.

Acabaram de me perguntar se não saiu caro? Pelo que sei saiu menos que o cálculo de ponte passarela que desembocaria no Terminal Pinheiros. De qualquer forma, uma coisa é o custo da obra em si, o outro é o benefício que a obra trará. Obra bem planejada e funcional neste país do desperdício é quase uma benção.

Como inúmeros ciclistas, cruzei com frequência a Bernard Goldfarb, principalmente no sentido Pinheiros - Butantã, e, mesmo sendo muito calmo quando pedalando no trânsito, posso afirmar que era tenso. Num determinado momento fizeram uma mudança na sinalização da Bernard Goldfarb que, de certa forma, estreitou mais ainda o espaço para pedalar. Não sou de dizer este tipo de coisa, mas cheirava a sacanagem para frear ciclistas, já que a placa de proibida a circulação de ciclistas tinha efeito zero. O caminho mais lógico é pela Bernard Goldfarb e ponto final.


terça-feira, 27 de agosto de 2024

Câmbios, geometria e funcionamento

Os sistemas de marchas funcionavam maravilhosamente bem no começo do mountain bike, naqueles anos festivos das 21 marchas, isto basicamente até 1992, e ninguém pensava em tentar entender como eles realmente trabalhavam. Era moleza, se tudo estivesse como o manual da Shimano mandava, que eram instruções bem simples, para qualquer um entender, a precisão de todos os modelos e níveis era maravilhosa, não importava se fosse os mais simples, os 100GS ou os Deore XT, topo de linha de então. Ainda existiam os de 18 marchas, 6 velocidades na catraca, que também funcionavam com uma suavidade e precisão invejável até hoje. Cara, era uma delícia, só quem experimentou sabe. Mais um detalhe: se bem ajustados eram praticamente indestrutíveis, duravam, duravam, duravam...

Coloquei 'até 1992' porque a partir daí começaram as inovações. Primeiro veio o 24 marchas da Suntour (MicroDrive? acho que é isto), com suas coroas de diâmetro menor, trocas de marchas ásperas, mas uma relação ótima para trilhas, ou mountain bike de verdade. A verdade é que a Suntour anteviu o que iria acontecer com o esporte, que a cada dia ficava mais radical. A era das trilhas e provas pensadas para a antiga relação de 21 marchas e uma redução máxima de 1 para 1 estava ficando no passado, e ficou.

Um detalhe: lá por 1992 Tom Ritchey, um dos gênios do mountain bike, deu uma entrevista dizendo que o futuro estaria nas 12 marchas, uma coroa na frente e relação de 12 velocidades atrás. Bingo! Cá estamos. Eu não gosto e pelo que tenho acompanhado começa a aparecer gente grande dizendo que prefere com duas coroas na frente. Mas o povão gosta e é isto que vale para o mercado. Quem for isento e tiver a oportunidade que experimente uma 21 marchas, 7 atrás e 3 na frente, das antigas, óbvio que para uso urbano ou mountain bike básico. 
Usar uma relação de mountain bike radical no meio da cidade é um pouco mal pensado, para dizer o mínimo. Cada qual no seu lugar. Se dizer que é uma brincadeira cada dia mais cara.

E sei lá onde, um dia acabei conseguindo saber como se dá a troca de marchas no câmbio traseiro, qual é a ciência por trás. O resumo é: a geometria do câmbio tem que combinar com a inclinação da relação. (Cuma?) Ou seja, o paralelogramo, o cage ou gaiola, e as polias tem que se mover acompanhando o alinhamento da relação.

De maneira mais simples, a polia superior do câmbio tem que mover-se pŕoxima e paralela com a linha de inclinação que existe entre a menor e maior velocidade da relação. Se a inclinação entre a primeira e última marcha / velocidade da relação tem 45º de inclinação, a polia superior do câmbio também deve mover-se para cima e para baixo a 45º. É o que estabelece um dos principais fatores para a precisão na troca de marchas.
Por isto que quando se usa um câmbio para ciclismo de estrada numa relação para mountain bike a precisão é baixa ou vai para o espaço. O inverso também vale, com uma diferença: existe uma grande possibilidade de um câmbio de estrada ir para o espaço quando este trabalha com uma relação de mountain bike. Em suma, cada relação tem seu câmbio, mais ainda hoje em dia, principalmente quando o sistema é topo de linha, os mais caros.
agradecimentos a Sram

Para tudo funcionar bem vai entrar tensão correta de corrente e outros fatores, mas vou supor que está tudo certo e que só falta ajustar o câmbio.

Vendo um Youtube inglês o especialista disse que os sistemas de marchas básicos, os mais baratos e simples, perderam precisão e muitos, incluindo os Shimano, se tornaram imprecisos. Creio que tenha sido numa entrevista no GCN. Quem conhece um mínimo de mecânica sabe disto faz muito tempo. Quero ver o diabo na minha frente, mas não quero regular um Shimano Tourney com uma catraca Mega Drive. Por mais que se faça não tem precisão, não faz juz ao sucesso mais que merecido da própria Shimano. Ai! que saudades dos 100GS.
Felizmente, mas felizmente mesmo, Mega Drive foi descontinuado. Demorou Shimano! Parece que o Tourney também.

- Não funciona, não funciona, não funciona...
Num dos meus surtos de loucura consegui fazer funcionar um Shimano Tourney, o modelo mais básico dos japoneses. Quando coloquei a mão nele estava torto, situação comum para um câmbio que é fabricado com um aço um tanto mole. Funcionar é um certo exagero, porque mesmo que fosse zero e com tudo em cima seu funcionamento é um tanto impreciso, mas esta é uma outra história. 
Depois de desintortado e realinhado ele ainda engatava as marchas com alguma boa vontade e muita irritação, mas engata, sobe e desce as marchas aos pulos... Nhaca! Assim não fica!

Quando a Shimano entrou no mercado de bicicletas eles introduziram um grau de precisão que até então era desconhecido no setor. Introduziram o mesmo nível de qualidade da indústria automobilística. Maravilha! Para eles foi relativamente fácil porque já eram respeitadíssimos na fabricação de carretilhas de pesca, das melhores do mercado. São verdadeiras joias.

Para que as marchas troquem todo sistema tem que trabalhar com um mínimo de precisão. Se passador, cabo e conduites, gancheira, corrente, relação, tudo está em ordem, se as peças são todas compatíveis, o que resta, o finalmente, é o câmbio. Ele que empura a corrente para cima e para baixo e faz a troca de marchas.

No meu câmbio visivelmente torto primeiro alinhei o cage, ou gaiola que segura as duas polias, depois troquei a polia superior que estava gasta e tendo movimentação laterial maior que o recomendável. As polias trabalham com uma pequena movimentação lateral para acompanhar a movimentação natural que a corrente vai ter enquanto se pedala. As trocas de marchas melhoraram muito, mas ainda estavam longe de ser minimamente normal.

Quando a coisa não está dando certo é melhor parar um pouco e esquecer o que está fazendo. No dia seguinte peguei a bicicleta e imediatamente percebi que o alinhamento logitudinal da polia não estava correto. Como o material é mole, peguei um alicate francês, ou alicate bico de papagaio, e alinhei o cage. Saí para a rua e bingo! pelo menos funciona com uma precisão aceitável. Meu bolso agradece.

"Arturo, a historinha pode ser boa, mas que explicação de merda!" Quer saber, concordo. Então vamos lá, resumindo toda esta falação:

Se o câmbio estiver desalinhado não vai funcionar bem. Tem que estar alinhado na vertical, horizontal e longitudinal. Alinhado com o que? O longitudinal com o quadro, o horizontal com o alinhamento dos aros da roda, e o vertical com o eixo da roda. 
Qualquer um consegue ver estes alinhamentos. Basta colhar com cuidado e atenção.
O mais comum é o câmbio desalinhar na vertical. É fácil de ver. Olha por trás da bicicleta, se o câmbio estiver 'para dentro' provavelmente a gancheira entortou, o que é fácil e urgente de se resolver. Gancheiras geralmente entortam quando a bicicleta cai parada.

Enfim, as marchas tem que trocar suave e precisamente. Ponto final

No meu caso fiz tudo, mas não percebi que o eixo da polia não estava alinhado na vertical. Bingo!

Manual de montagem e ajuste dos câmbios Shimano - os básicos: