quinta-feira, 2 de outubro de 2025

Por que se morre no trânsito do Brasil?

Depois de rever algumas vezes este vídeo confesso que falar sobre o assunto, "Por que se morre no trânsito do Brasil?", será repetir mais uma vez o que venho há muito repetindo. Porém, tem uma pequena fala do Aveleda que me leva a relembrar algo que já escrevi, mas agora usando um velho ditado popular que põe a coisa de uma forma mais sarcástica:

"Morreu? Antes ele do que eu". 
Traduzindo: Foda-se que o outro tenha morrido. O outro é o outro. Comigo e com os meus não vai acontecer porque nós somos mais espertos e melhores. (Vai nessa, mané!)

A verdade dura e crua é que o problema de acidentes no trânsito no Brasil, no mundo e no universo, tem nome e sobrenome: custo financeiro. Em outras palavras, simplificando, custo hospitalar e de tratamento. Foi por esta primeira razão que países do 'primeiro mundo' começaram a organizar o trânsito, melhor, as cidades, seus bairros, suas vias e espaços públicos. Foi para diminuir custos hospitalares que na década de 60 passaram a obrigar nos países nórdicos o uso de cinto de segurança, depois a diminuição da velocidade e outras medidas para redução de acidentes, leia-se custos.
 
Mortes? Depende de quem morre. Sim, repito, depende de quem morre. São pouquíssimos os que tem valor agregado suficiente para pesar no cálculo ou fazer diferença. A maioria é número que só conta pelos votos ganhos ou perdidos, ponto final.
No mesmo contexto, uma cidade menos violenta, com melhor qualidade de vida, muito mais fácil de ser administrada, isto em vários sentidos, portanto com menos custos, é mais rentável.

Dirão: minha visão é de capitalismo e de um liberalismo selvagem. Responderei: É mesmo? 
"Morreu? Antes ele do que eu", não tem partido, ideologia ou religião, principalmente onde o salve-se quem puder, até corporativo, impera.  
Se um lado tem preocupação com a população, como explicar dar incentivos para a população comprar veículos particulares, carros e motos, sem um mínimo de preparo para sua condução? Como explicar a falta de pressão (para valer, não o diz que diz) para diminuir (mesmo) o número de ocorrências com pedestres e motociclistas sabendo que a imensa maioria dos acidentados e mortos estão na população de baixa renda? 

Relembrando o que escrevi: o melhor símbolo da "preocupação" com esta situação é a Ponte Estaiada, construída unicamente para carros e motos, sendo que numa de suas cabeceiras existem duas favelas cujos moradores não podem usá-la para cruzar o rio Pinheiros.

Sérgio Aveleda fala de forma educada a realidade: todos estão se lixando se o outro sofre um acidente. Se não mudar isto, vai ser difícil.

Dá para mudar? Dá, como diz no vídeo Flávio Cunto, Professor do Departamento de Engenharia de Trânsito da UFC: "Com medidas simples", pequenas intervenções de engenharia viária, ou calming traffic, acalmamento de trânsito. Eu acho que já ouvi falar sobre isto.
Dá para mudar, com fiscalização, multa, educação, punição, punição rápida e eficaz... Acho que também já ouvi falar...

Dá para mudar! E mudará, melhorando muito a segurança de todos, se parar de apontar o dedo para o outro. 

O único participante do trânsito que pode apontar o dedo para todos os outros é o pedestre. E como diz Reginaldo Paiva: "pedestres somos todos, sem exceção".

O dia que a vontade do pedestre for respeitada, a coisa vai tomar jeito. A meu ver, este é o primeiro e prioritário passo. 

Não há interesse por parte da população brasileira, sem exceção, ricos, pobres, direita, esquerda, tementes a Deus ou não, em reverter o que vivemos hoje. Talvez avisando o pessoal que acidente de trânsito doi no bolso de todos a coisa tome jeito. Do contrário, por causa de mortes... eu duvido que a barbárie pare, e tenho boas razões para duvidar.