quarta-feira, 8 de outubro de 2025

Ciclista cuida de ciclista, regra fundamental

É ótimo ter companhia enquanto pedala, a partir do ponto que quem está a seu lado ou próximo saiba pedalar em dupla ou no meio de um grupo.

O sujeito que pedalou comigo boa parte de minha vinda para São José dos Campos pedalava corretamente, mas cometia erros que me colocaram em perigo mais de uma vez. Eu quase atropelei um romeiro que andava a pé por causa dele. Não gosto de jogar a responsabilidade em cima dos outros, mas aí foi o caso.

Estavamos numa descida, o diferencial de nossa velocidade para os romeiros pedestres era grande. Ele ficou pedando ao meu lado falando sem parar e na aproximação não respondeu ao meu pedido que acelerasse para eu me encaixar atrás dele e assim passar os pedestres em segurança. Não fez, continuou falando sem prestar atenção.  Em outras palavras, ele acabou me empurrando para cima do pedestre. Eu deveria ter previsto.

Ciclista cuida de ciclista, regra básica. Aliás é o básico só básico em todas situações, não só no ciclismo, mas na vida. Deixe tudo para o próximo melhor que encontrou, filosofia de vida japonesa, absolutamente correta.

O ciclista queria conversar, até aí sem problema. Faz parte. Agora, converse prestando atenção não só no que está fazendo, mas principalmente no que suas ações podem causar aos outros.



sábado, 4 de outubro de 2025

Pedalar distâncias com sabedoria

Tive um almoço a 20 km de casa, ciclovia do rio Pinheiros de ponta a ponta, lugar delicioso, YCSA, comida ótima, companhia de dois amigos de longa data. Pedalar 20 km não é problema... se forem bem pedalados. "Ciclismo é a arte de preservar energia". Dia ótimo.

Estou gaga e já não me lembro mais se já soltei que semana que vem devo ir pedalando para Aparecida, 180 km divididos em três etapas, 100 km, um dia de descanso, mais os 80 km finais. Gostaria de um dia, lá atrás, num passado distante, ter feito os 180 km numa tacada, mas a esta altura do meu campeonato está completamente fora de questão. As dicas que dou aqui são para seres humanos normais e foram aprendidas com ciclistas de alta performance. 

Primeira dica: para distâncias médias ou longas nunca saia fritando. Aliás, nunca e em nenhuma situação saia fritando. Deixa o corpo pegar aos poucos o exercício, adaptar-se à situação. Mais, dá um tempo para a cabeça entrar na brincadeira. Vale não só para ciclismo, mas para todos exercícios e esportes. Aliás, não fritar de cara é a sabedoria que o ermitão, aquele que descobriu o sentido da vida, levou para seu feliz isolamento no topo da montanha. Exatamente a mesma verdade que nós, de vida apressada que não leva a nada, procuramos em nossas vidas mundanas. O ermitão responderá: "Pedale, pedale, que teu espírito se acalmará".

Voltemos ao mundo dos simples e neuróticos mortais.

No ciclismo profissional tem uma regra explícita para subidas que vale ouro também para longas distâncias: começa devagar para terminar rápido. Para entender, vale a comparação com o sujeito que pedala desesperadamente antes da subida "para pegar embalo" e metros depois enrola a lingua nos pedais. Preciso explicar melhor?

O ideal é que quando você saia para uma pedalada longa os muitos primeiros km sejam na mais completa manha. Cada um tem um tempo de aquecimento, respeite o seu. Minha musculatura demora muito para entrar no espírito de uma pedalada longa, 100 km. Acreditem, se minha cabeça está bem, se estou me controlando, só depois de uns 10 ou 15 km é que solto. Fiz meus melhores tempo total de pedal em todas as longas distâncias que saí muito cuidadoso, diferenças grandes.

Ir e voltar do almoço, 40 km total, foi uma baba. Pensando bem, porque sai com muito tempo para chegar, não querendo suar muito, e ainda por cima peguei vento de popa indo e voltando. Virou o vento, pura sorte. 
A volta foi com uma ventania empurrando forte, 24, 26 km/h de vento nas costa, o que deu uma diferença de 4 km/h de média. Mas confesso que aí me entusiasmei e fritei as pernas. 

Como sei a velocidade do vento? Com vento pelas costas é fácil. No momento que para o barulho do vento é quando o vento e o ciclista estão na mesma velocidade. Aí basta olhar no velocímetro para saber. 

Segunda dica: não se deixe levar por situações fáceis. Tente se controlar, o que vou dizer que não é muito fácil. Entusiasmo é bom até a hora que passa dos limites, o que pedalando é fácil acontecer. Quando vejo entro na bagunça e pedalo feito uma vaca louca. Vaca louca? Que seja. 
Que delícia, vento empurrando. Aproveita para preservar mais energia. O maluco aqui socou mais ainda os pedais. Resultado: voltei moído. Desnecessário.

Sem prática é difícil se fazer algumas perguntas. Se for seu caso, comece bem devagar, curtindo a paisagem, o ar, as pessoas. Não pense na distância. Aliás, esta é uma dica indispensável: Não pense em quanto falta, não pense em nada, curta o momento que está vivendo. Quanta energia eu tenho e como posso melhor usá-la? É uma ótima pergunta que bem usada vai servir para diminuir os gastos. 

Com tempo, com autonhecimento, você vai conseguir controlar o "Onde e como posso ou devo colocar minhas energias?", sempre controlando o impeto do "Eu quero chegar logo". Isto mata. 

quinta-feira, 2 de outubro de 2025

Por que se morre no trânsito do Brasil?

Depois de rever algumas vezes este vídeo confesso que falar sobre o assunto, "Por que se morre no trânsito do Brasil?", será repetir mais uma vez o que venho há muito repetindo. Porém, tem uma pequena fala do Aveleda que me leva a relembrar algo que já escrevi, mas agora usando um velho ditado popular que põe a coisa de uma forma mais sarcástica:

"Morreu? Antes ele do que eu". 
Traduzindo: Foda-se que o outro tenha morrido. O outro é o outro. Comigo e com os meus não vai acontecer porque nós somos mais espertos e melhores. (Vai nessa, mané!)

A verdade dura e crua é que o problema de acidentes no trânsito no Brasil, no mundo e no universo, tem nome e sobrenome: custo financeiro. Em outras palavras, simplificando, custo hospitalar e de tratamento. Foi por esta primeira razão que países do 'primeiro mundo' começaram a organizar o trânsito, melhor, as cidades, seus bairros, suas vias e espaços públicos. Foi para diminuir custos hospitalares que na década de 60 passaram a obrigar nos países nórdicos o uso de cinto de segurança, depois a diminuição da velocidade e outras medidas para redução de acidentes, leia-se custos.
 
Mortes? Depende de quem morre. Sim, repito, depende de quem morre. São pouquíssimos os que tem valor agregado suficiente para pesar no cálculo ou fazer diferença. A maioria é número que só conta pelos votos ganhos ou perdidos, ponto final.
No mesmo contexto, uma cidade menos violenta, com melhor qualidade de vida, muito mais fácil de ser administrada, isto em vários sentidos, portanto com menos custos, é mais rentável.

Dirão: minha visão é de capitalismo e de um liberalismo selvagem. Responderei: É mesmo? 
"Morreu? Antes ele do que eu", não tem partido, ideologia ou religião, principalmente onde o salve-se quem puder, até corporativo, impera.  
Se um lado tem preocupação com a população, como explicar dar incentivos para a população comprar veículos particulares, carros e motos, sem um mínimo de preparo para sua condução? Como explicar a falta de pressão (para valer, não o diz que diz) para diminuir (mesmo) o número de ocorrências com pedestres e motociclistas sabendo que a imensa maioria dos acidentados e mortos estão na população de baixa renda? 

Relembrando o que escrevi: o melhor símbolo da "preocupação" com esta situação é a Ponte Estaiada, construída unicamente para carros e motos, sendo que numa de suas cabeceiras existem duas favelas cujos moradores não podem usá-la para cruzar o rio Pinheiros.

Sérgio Aveleda fala de forma educada a realidade: todos estão se lixando se o outro sofre um acidente. Se não mudar isto, vai ser difícil.

Dá para mudar? Dá, como diz no vídeo Flávio Cunto, Professor do Departamento de Engenharia de Trânsito da UFC: "Com medidas simples", pequenas intervenções de engenharia viária, ou calming traffic, acalmamento de trânsito. Eu acho que já ouvi falar sobre isto.
Dá para mudar, com fiscalização, multa, educação, punição, punição rápida e eficaz... Acho que também já ouvi falar...

Dá para mudar! E mudará, melhorando muito a segurança de todos, se parar de apontar o dedo para o outro. 

O único participante do trânsito que pode apontar o dedo para todos os outros é o pedestre. E como diz Reginaldo Paiva: "pedestres somos todos, sem exceção".

O dia que a vontade do pedestre for respeitada, a coisa vai tomar jeito. A meu ver, este é o primeiro e prioritário passo. 

Não há interesse por parte da população brasileira, sem exceção, ricos, pobres, direita, esquerda, tementes a Deus ou não, em reverter o que vivemos hoje. Talvez avisando o pessoal que acidente de trânsito doi no bolso de todos a coisa tome jeito. Do contrário, por causa de mortes... eu duvido que a barbárie pare, e tenho boas razões para duvidar.