quarta-feira, 20 de julho de 2016

Dentro de uma pequena fábrica de bicicleta

Outro dia fui visitar uma pequena fábrica de bicicletas junto com Daniel. Ele chegou entusiasmado e saiu um tanto desapontado, para dizer o mínimo. Posso bem imaginar o que ele sonhava ser a fábrica, algo bem parecido com o que se vê neste vídeo. Infelizmente por uma série de razões os pequenos fabricantes brasileiros de bicicletas (assim como a maioria das fabriquetas) ainda tem estrutura e processo de fabricação muito parecido, se não igual, ao que vi pela primeira vez antes de 1960.
Outro dia soltaram um relatório assustador, mas previsível, sobre a obsolescência do parque industrial brasileiro em comparação ao que se encontra mundo afora. Esta obsolescência tem um custo muito maior que simplesmente o do atraso tecnológico. Causa enormes perdas econômicas e sociais. Causam vários problemas ambientais, o grau de precisão é baixo, pelo que me dizem é difícil encontrar até ferramenteiro (o especialista que cuida de máquinas e ferramental pesado). Mal temos mão de obra para trabalhar com estas máquinas, que são o básico do básico. Por exemplo, é muito difícil encontrar um bom torneiro, daqueles que resolviam tudo. 
Para reconstruir o Brasil teremos que sucatear grande parte do parque industrial que está ai. E junto teremos que sucatear uma mentalidade arcaica que começa dentro da fábrica e termina no comprador final.
 
O Brasil tem que criar um plano de recuperação de nosso parque industrial ou jogamos a toalha e aceitamos que seremos pobres para sempre. 
Em relação às bicicletas é fácil entender o que vem acontecendo: numa fabriqueta destas, como a que Daniel viu, é difícil conseguir uma precisão próxima ao milímetro, o que define muito da qualidade. Todos sabem que as bicicletas brasileiras são frágeis e quebram com rapidez e facilidade.  Bicicletas com padrão internacional de mercado trabalham dentro de décimo de milímetro baixo, ou seja, uma precisão quase 10 vezes maior que a das nossas. Isto faz uma diferença enorme no bom funcionamento e durabilidade, portanto na qualidade. E não estou entrando na questão dos materiais usados para a fabricação...
O resultado final? Simples: uma bicicleta básica vai rodar - sem quebrar nada - muitos anos, muitos anos, década talvez, repito "sem quebrar nada". A comparação das baratinhas daqui com as de lá é absolutamente vergonhosa

sexta-feira, 1 de julho de 2016

A segurança no olho do motorista

Eu sempre coloquei em minhas palestras, treinamentos e consultorias que a segurança do ciclista tem uma relação íntima com o olhar do motorista ou motociclista. Este vídeo mostra como trabalha um olho de um piloto de F1, que obviamente é muito mais rápido e treinado que de um simples mortal, mas ajuda imaginar como nós olhamos o trânsito. Quem consegue perceber as micro reações do trânsito é mais seguro. Basta pedalar olhando e ouvindo com atenção o que acontece no entorno. 
O segredo é pegar sua própria experiência como motorista, motociclista ou mesmo passageiro para imaginar onde o olho do condutor do outro veículo provavelmente estará numa determinada situação. Chegando num semáforo é muito possível a atenção vai estar voltada para o semáforo, portanto o olho deve estar focando para cima e para a lanterna do carro que está na frente. Se está passando pela frente de algo muito chamativo, como uma menina linda, uma loja com vitrine legal, de um bar com mesas na rua, uma árvore florida..., provavelmente o olhar não vai estar no ciclista ou pedestre. 
Lembre-se que pessoas normais gastam certo um certo tempo para olhar, entender o que está vendo e agir. 
Outro dia ajudei um ciclista que teve sua roda traseira entortada por um carro na esquina da rua Canada com rua Honduras. Felizmente o ciclista era calmo e esclarecido e, mesmo com raiva, acabou entendendo que o motorista simplesmente não o viu. Muitos acidentes acontecem porque o motorista simplesmente vê, mas não realiza a situação de perigo. Pavlov explica.
Enfim, sempre coloque-se no lugar do outro para encontrar seu caminho seguro